quarta-feira, 21 de junho de 2017

Nossa Viagem

Previamente esquematizei que esta carta estivesse em suas mãos nesse momento.
Você sentada em uma poltrona do trem, seguindo em frente, olhando pela janela e lembrando de tudo que nós fizemos.

Muitas vezes queremos que a vida passe lentamente.
Igual quando um trem inicia sua viagem.
Exatamente naqueles primeiros segundos que deslocam o trem do lugar.
Isso poderia fazer com que nossas vidas demorasse a eternidade desejada por muitos.
Mas isso não é possível.
O tempo escorrega pelas nossas mãos e nunca conseguimos atrasá-lo.
Temos apenas que continuar vivendo nossa viagem.

Quando nos conhecemos, compramos nossa passagem para um lugar que não sabíamos onde ia dar e nem como seria. Junto conosco, várias outras pessoas também compraram suas passagens.
Várias pessoas, com medo de escolher essa viagem, disseram que ela era perigosa, que deixar tudo para seguir outro caminho, talvez não fosse o correto.
Alguns amigos, que nos incentivaram a subir nesse trem, não tiveram coragem e nunca compraram uma passagem como a nossa.
Outros só subiram no trem para passear. E outros, no meio do caminho, trocaram de destino.
Acho que se enganaram conosco.

Algumas desceram antes mesmo do trem fechar as portas.
Alguns desceram em estações desconhecidas e procuravam entender como chegaram até ali!

Outras, amedrontadas com os primeiros movimentos, desesperadamente quebraram aquele lacre de segurança que tem ao lado das portas, puxou e quando o trem parou, saltaram de volta para o tempo passado.

Algumas pessoas importantes, como nossos pais, deveriam sempre estar juntos na nossa viagem. Mas o tempo deles terminou como sempre acontece na viagem de todas as famílias.

Alguns, no andar da carruagem, por um inesperado acidente, tiveram que ser retirados do trem.
Outros, sem querer, foram jogados pela janela sem qualquer explicação.
Alguns, por força da natureza humana ou espiritual… foram tirados de nós, também sem qualquer explicação.

Nós mesmos, algum tempo atrás, havíamos entrado em um trem e saltamos antes que ele saísse dos trilhos.

Nossa passagem era um bilhete duplo, só de ida, onde tudo que juramos juntos, seria conquistado nessa viagem. E durante toda nossa viagem, sempre conseguimos seguir o mesmo caminho, na mesma direção. Tinha que ser assim, afinal, foram essas as passagens que compramos. E compramos mesmo sabendo que não sabíamos nada sobre essa viagem.
Mas percebemos que alguns passageiros desse trem, eram muito inexperientes, andavam de um vagão para o outro. Muito nem conhecemos.

Algumas vezes, durante a viagem, o fiscal passava pelo corredor e verificava se existia alguém que estava viajando sem ter comprado passagem, que estavam ali só para sentar nas poltronas vazias e tentar encontrar, entre aqueles que haviam ficado sozinhos, uma companhia para seguir em frente ou apenas passar o tempo entre uma estação e a outra.

Vimos pessoas boas se tornarem solitárias, esquecidas, tristes, pois durante a viagem, foram forçados pelo balançar da carruagem, a trocarem de lugar ou escolher outro destino.
Aconteceram diversas paradas onde embarques e desembarques ocorreram, com idas e vindas de diferentes caminhos, com nenhuma bagagem ou com muitas.

Pessoas que fazem nosso sonho se tornar realidade, pegaram outras linhas deixando saudades. Volta e meia, nos encontramos em outras estações e depois, seguimos nossos caminhos até nos encontrarmos novamente. 

Algumas vezes a paisagem foi nebulosa, escurecida. Mas até agora, ela sempre está transparente, com céu azul e sol.

Mas o que não sabemos, mesmo tendo comprado essas passagens, é onde e em que estação vamos descer. Se vamos descer juntos ou não, se por força do movimento dessas carruagens, teremos que nos separar em caminhos diferentes. Não sabemos. Não veio escrito nos bilhetes onde essa viagem ia dar.

Só sabemos que até agora, nosso trem está andando nos trilhos, onde muitos sobem, muitos descem, muitos voltam e muitos se vão. Mas continuamos olhando a paisagem, lado a lado, sentados em nossas poltronas. Afinal, tudo isso foi passando durante nossa viagem e nós, nós continuamos sentados em nossas poltronas, admirando a paisagem pela janela e seguindo viagem.

Boa viagem! Tô te esperando na próxima estação!

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Situações

Quantas vezes já passei pela mesma situação? Perdi as contas!
Existem coisas que nunca vamos entender por que acontecem!
As emoções são inesperadas e afloram a qualquer instante.
A ansiedade esta mais presente do que nunca e me faz um mal tremendo.
Os pensamentos voam para um futuro que nem sei se vai existir.
Não espero o tempo passar.
Não consigo viver o tempo que está passando.
Vários já perderam a esperança.
Eu nunca consegui realmente vê-la.

Rua Donato LUongo, 290

EM ALGUNS MOMENTOS EU ME PEGO LEMBRANDO DO PASSADO
QUANDO NÃO TÍNHAMOS IDEIA DO QUE SERIA NOSSAS VIDAS
E ME VEJO SENTADO NO TERRAÇO OLHANDO O QUINTAL
OUTRAS VEZES TOMANDO O CHÁ MATE NA MESA DA COZINHA
DO PINHEIRO, DAS LUZES DE NATAL, DAS MARGARIDAS

SOBRE A PONTE OLHANDO AS ÁGUAS DO PEQUENO RIO
JOGANDO PEDRAS, LIXO, OU APENAS VENDO O TEMPO PASSAR
NO MAIS ALTO GALHO DA GOIABEIRA OU DA PITANGUEIRA
ONDE O NOSSO LIMITE NÃO ERA O CÉU SOBRE NÓS,
MAS A DISTÂNCIA DO NOSSO OLHAR

AINDA SINTO O CHEIRO DAS FOLHAS DE LOURO E DE AMEIXA
O GOSTO DO CAFÉ VERMELHO E DA LARANJA DA TERRA
VEJO OS QUADROS PINTADOS POR MÃOS DE PURA DELICADEZA
AS MESMAS MÃOS QUE UM DIA NÃO PUDERAM MAIS PINTAR
POR CAUSA DE UMA CORTE RÁPIDO DE UMA SERRA

DOS VELHOS TRAPOS, DOS VELHOS MOVEIS E DO BARRACÃO
AINDA LEMBRO DA VITROLA QUE TOCAVA OS DISCOS DE VINIL
DA JABUTICABA, PERA, BANANA E GRUMIXABA
DOS BALÕES QUE SUBIAM, DAS FOGUEIRAS DE SÃO JOÃO
DAS ROUPAS TINGIDAS DE ANIL

DAS BRINCADEIRAS, DA BRIGAS E DOS AMIGOS
DAS NOITADAS NA PORTA DA IGREJA TOCANDO VIOLÃO
DOS CARROS VELHOS, DAS CORRIDAS ATRÁS DAS PIPAS
AINDA OUÇO O PAPAGAIO, O TOTÓ, A TATÁ, O KINKAS
AINDA LEMBRO DE NOSSA MÃO CONVERSANDO NO PORTÃO

AINDA VEJO CADA DETALHE DE CADA CANTO, DE CADA PLANTA E FLOR
DE CADA FOTO GUARDADA DENTRO DO GUARDA ROUPA, UMA VIDA
DE CADA FESTA, DE CADA AMIGO, CADA DOR E CADA AMOR
AINDA SINTO A PRESENÇA DOS QUE PARTIRAM

DOS QUE VIVERAM NO MESMO LUGAR ONDE JÁ NÃO ESTOU.

Julio Vicari - Cabeça de fax